Tuesday, November 01, 2016

O gigante enterrado- Kazuo Ishiguro

Não é literatura oriental como pensei inicialmente. Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaki, mas mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos de idade. Não sei exatamente como cheguei a este livro. Andei pesquisando sobre obras que conquistaram prêmios e ele deve ter aparecido em algum lugar como sugestão para mim.
Fiquei impressionada com a beleza exterior do volume quando o recebi. Uma capa belíssima, azul com desenho preto e detalhes dourados. A lombada também é toda azul.
Demorei um pouco mais do que o esperado (fiquei todo mês de outubro) para ler as 396 páginas que narram a história de Axl e Beatrice. A história em si não é tão espetacular. O casal de idoso habita uma aldeia cujo sofrimento é uma névoa que traz esquecimento para as pessoas. Suspeita-se que a tal névoa é provocada pela dragoa Querig, o gigante enterrado do título. Então surge o dilema crucial do livro: devem ajudar a matar a dragoa e conseguir de volta as lembranças? O que elas podem estar ocultando?
A narrativa de viagem fica por conta da busca pelo filho do casal, uma das poucas recordações que eles ainda têm. Sabem que o filho mora em algum lugar distante e está esperando ansiosamente por eles. Repetem tanto essa mentira que acabam acreditando nela.
A história pode parecer um pouco ingênua, mas as entrelinhas vão mostrando sua grandeza. Grandes revelações aguardam o leitor nas últimas páginas e para coroar, um final aberto. O que aconteceu exatamente ali? Somente com informações guardadas pelo leitor ao longo do livro poderão dar a resposta. Ou não.
Lindo livro. Recomendo.


"Você teria que procurar muito tempo para encontrar algo parecido com as veredas sinuosas ou os prados tranquilos pelos quais a Inglaterra mais tarde se tornaria célebre. Em vez disso, o que havia eram quilômetros de terra desolada e inculta; por todo lado, trilhas toscas que atravessavam colinas escarpadas ou charnecas áridas. A maior parte das estradas deixadas pelos romanos já teria àquela altura se fragmentado ou ficado coberta de vegetação, muitas delas desaparecendo em meio ao mato. Uma névoa gelada pairava sobre rios e pântanos, muito útil aos ogros que ainda eram nativos daquela terra. As pessoas que moravam ali perto - e pode-se imaginar o grau de desespero que as teria levado a se estabelecer num lugar tão soturno- teriam razão de sobra para temer essas criaturas, cuja respiração ofegante se fazia ouvir muito antes de seus corpos deformados emergirem da neblina." (p. 9)


" Eu o ouço vir andando pela água. Será que pretende me dizer alguma coisa? Ele tinha falado de fazer as pazes comigo. No entanto, quando me viro, ele não olha para mim: olha apenas para a terra e o sol baixo na enseada. E eu também não procuro seus olhos. Ele passa por mim, sem olhar para trás. "Espere por mim na praia, amigo.", digo baixinho, mas ele não ouve e segue em frente. " (p. 396) 

Blog Archive